TRABALHO 9ª. Aula 26.10 - Catequese de inspiração catecumenal - prazo de entrega 19 horas do dia 04.11.2020.

 


9ª. Aula 26.10 - Catequese de inspiração catecumenal

 

TEXTO

(Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Diretório para a Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2020, nn. 55-89)

CAPÍTULO II 

A IDENTIDADE DA CATEQUESE

1. Natureza da catequese (n. 55-65)

55.   A catequese é um ato de natureza eclesial, que nasce do envio missionário do Senhor (Mt 28,19-20) e que está orientada, como seu nome indica,34 a fazer ressoar continuamente o anúncio de sua Páscoa no coração de cada pessoa, para que sua vida seja transformada. Uma realidade dinâmica e complexa a serviço da Palavra de Deus, a catequese acompanha, educa e forma na fé e para a fé, introduz à celebração do Mistério, ilumina e interpreta a vida e a história humanas. Integrando harmoniosamente essas características, a catequese expressa a riqueza de sua essência e oferece sua contribuição específica para a missão pastoral da Igreja.

56.   A catequese, etapa privilegiada do processo de evangelização, é geralmente voltada para pessoas que já receberam o primeiro anúncio, e em cujo íntimo ela promove os processos de iniciação, crescimento e amadurecimento na fé. É verdade, porém, que, embora seja útil a distinção conceitual entre pré-evangelização, primeiro anúncio, catequese, formação permanente, no contexto atual não é mais possível marcar tal diferença. De fato, por um lado, aqueles que hoje pedem ou já receberam a graça dos sacramentos muitas vezes não têm uma experiência explícita de fé ou não conhecem intimamente sua força e calor; por outro lado, um anúncio formal que se limita à crua enunciação dos conceitos de fé não permite uma compreensão da própria fé, que é, em vez disso, um novo horizonte de vida que se revela, a partir do encontro com o Senhor Jesus.

 

Íntima relação entre querigma e catequese

57.   Essa exigência, à qual a Igreja deve responder nos tempos atuais, evidencia a necessidade de uma catequese que coerentemente possa ser chamada querigmática, ou seja, uma catequese que é um “aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, [fazendo-se] carne” (EG, n. 165). A catequese, que nem sempre pode ser distinguida do primeiro anúncio, é chamada a ser primeiramente um anúncio da fé, e não deve delegar a outras ações eclesiais a missão de ajudar a descobrir a beleza do Evangelho. É importante que, precisamente através da catequese, cada pessoa descubra que vale a pena crer. Dessa forma, ela não mais se limita a ser um mero momento de crescimento mais harmonioso da fé, mas contribui para gerar a própria fé, permitindo descobrir sua grandeza e credibilidade. O anúncio não pode mais ser considerado simplesmente a primeira etapa da fé, prévia à catequese, mas sim a dimensão constitutiva de cada momento da catequese.

58.   O querigma, “fogo do Espírito que se dá sob a forma de línguas e nos faz crer em Jesus Cristo, que, com a sua morte e ressurreição, nos revela e comunica a misericórdia infinita do Pai” (EG, n. 164), é simultaneamente um ato de anúncio e o conteúdo mesmo do anúncio, que revela e faz presente o Evangelho.35 No querigma, o sujeito que age é o Senhor Jesus que se manifesta no testemunho daqueles que o anunciam; a vida da testemunha que experimentou a salvação torna-se, portanto, o que toca e move o interlocutor. No Novo Testamento estão presentes diversas formulações do querigma36 que respondem às várias compreensões da salvação, que ressoa com acentos particulares nas diferentes culturas e por diferentes pessoas. Da mesma forma, a Igreja deve ser capaz de encarnar o querigma para as exigências de seus contemporâneos, favorecendo e encorajando que nos lábios dos catequistas (Rm 10,8-10), a partir da plenitude de seu coração (Mt 12,34), em uma recíproca dinâmica de escuta e diálogo (Lc 24,13-35), floresçam anúncios críveis, confissões de fé vitais, novos hinos cristológicos para anunciar a Boa Notícia: “Jesus Cristo te ama, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar” (EG, n. 164).

59.   Dessa centralidade do querigma para o anúncio, derivam alguns esclarecimentos também para a catequese: que “exprima o amor salvífico de Deus como prévio à obrigação moral e religiosa, que não imponha a verdade mas faça apelo à liberdade, que seja pautado pela alegria, pelo estímulo, pela vitalidade e por uma integralidade harmoniosa que não reduza a pregação a poucas doutrinas, por vezes mais filosóficas que evangélicas” (EG, n. 165). Os elementos que a catequese como eco de querigma é convidada a valorizar são: o caráter da proposta; a qualidade narrativa, afetiva e existencial; a dimensão de testemunho da fé; a atitude relacional; a ênfase salvífica. Com efeito, tudo isso interroga a própria Igreja, chamada primeiramente a redescobrir o Evangelho que anuncia: o novo anúncio do Evangelho pede à Igreja uma renovada escuta do Evangelho, junto com seus interlocutores.

60.   Uma vez que “o querigma possui um conteúdo inevitavelmente social” (EG, n. 177), é importante que esteja explícita a dimensão social da evangelização de modo que seja possível encontrar a sua abertura em toda a existência. Isso significa que a eficácia da catequese é visível não somente por meio do anúncio direto da Páscoa do Senhor, mas também mostrando como a nova visão da vida, do ser humano, da justiça, da vida social e do universo inteiro emerge da fé, também mediante a realização de sinais concretos. Por essa razão, a apresentação da luz com a qual o Evangelho ilumina a sociedade não é um segundo momento cronologicamente distinto do anúncio da própria fé. A catequese é um anúncio da fé que não pode outra coisa senão se relacionar, mesmo que em semente, com todas as dimensões da vida humana.

 

O catecumenato, fonte de inspiração para a catequese

61.   A exigência de “não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho” (EG, n. 34) é a razão tanto para afirmar a natureza querigmática da catequese quanto para considerar sua inspiração catecumenal. O catecumenato é uma antiga prática eclesial, restaurada após o Concílio Vaticano (SC, n. 64-66;37 CD, n. 14;38 AG, n. 14), oferecida aos convertidos não batizados. Apresenta, portanto, uma explícita intenção missionária e se estrutura como um complexo orgânico e gradual para iniciar à fé e à vida cristã. Justamente por causa de seu caráter missionário, o catecumenato pode também inspirar a catequese daqueles que, apesar de já terem recebido o dom da graça batismal, não desfrutam de sua riqueza:39 nesse sentido, se fala de inspiração catecumenal da catequese ou do catecumenato pós-batismal ou catequese de iniciação à vida cristã (CIgC, n 1231; DAp, n. 286-288). Essa inspiração não ignora que os batizados “já foram introduzidos na Igreja e se tornaram filhos de Deus pelo Batismo. A sua conversão fundamenta-se, portanto, no Batismo que já receberam e cuja força de vida eles devem fazer desabrochar” (RICA, n. 295).

62.   Em relação aos sujeitos, pode-se falar de três propostas catecumenais:

  um catecumenato em sentido estrito para os não batizados, tanto jovens quanto adultos, bem como crianças em idade escolar e adolescentes;

  um catecumenato em sentido análogo para os batizados que não completaram os sacramentos da iniciação cristã;

  uma catequese de inspiração catecumenal para aqueles que receberam os sacramentos de iniciação, mas ainda não estão suficientemente evangelizados ou catequizados, ou para aqueles que desejam retomar o caminho da fé.

63. A restauração do catecumenato, favorecida pelo Concílio Vaticano II, foi alcançada com a publicação do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA). O catecumenato, verdadeira escola de “formação de toda a vida cristã” (AG, n. 14), é um processo estruturado em quatro tempos ou períodos, com o objetivo de guiar o catecúmeno ao encontro completo com o mistério de Cristo na vida da comunidade, e é, portanto, considerado um lugar típico de iniciação, catequese e mistagogia. Os ritos de passagem40 entre os períodos destacam a gradualidade do itinerário formativo do catecúmeno:

  no pré-catecumenato se realiza a primeira evangelização voltada à conversão e se explicita o querigma do primeiro anúncio;

  o tempo do catecumenato, propriamente dito, destina-se à catequese integral; a esse se ascende com o Rito de Admissão, no qual pode haver a “entrega dos Evangelhos”;41

  o tempo de purificação e iluminação oferece uma preparação mais intensa para os sacramentos da iniciação; esse período, no qual se ingressa com o Rito da Eleição ou da inscrição do nome, prevê a “entrega do Símbolo” e a “entrega da Oração do Senhor”;42

  com a Celebração dos Sacramentos de Iniciação na Vigília pascal se abre o tempo da mistagogia, caracterizado por uma experiência cada vez mais profunda dos mistérios da fé e da participação na vida da comunidade (RICA, n. 208-239).

64. A inspiração catecumenal da catequese não significa reproduzir, ao pé da letra, o catecumenato, mas assumir seu estilo e dinamismo formativo, respondendo também à “necessidade de uma renovação mistagógica, que poderia assumir formas muito diferentes de acordo com o discernimento de cada comunidade educativa” (EG, n. 166). O catecumenato tem uma intrínseca perspectiva missionária, que, na catequese, com o passar do tempo, foi se enfraquecendo. Repropõe-se os principais elementos do catecumenato, que, após o necessário discernimento, devem hoje ser incluídos, valorizados e atualizados com coragem e criatividade, em um esforço de verdadeira inculturação. Esses elementos são:

a. o caráter pascal: no catecumenato, tudo é orientado para o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A catequese comunica, de forma essencial e existencialmente compreensível, o coração da fé, colocando cada um em relação com o Ressuscitado, ajudando-o a reler e viver os momentos mais intensos da própria vida como passagens pascais;

b. o caráter iniciático: o catecumenato é uma iniciação à fé que leva os catecúmenos à descoberta do mistério de Cristo e da Igreja. A catequese introduz a todas as dimensões da vida cristã, ajudando cada um a iniciar, na comunidade, sua jornada pessoal de resposta a

Deus que o buscou;

c. o caráter litúrgico, ritual e simbólico: o catecumenato é tecido de símbolos, ritos e celebrações, que tocam os sentidos e os afetos. A catequese, justamente graças ao “uso de símbolos eloquentes” e por meio de “uma renovada valorização dos sinais litúrgicos” (EG, n. 166), pode, assim, responder às exigências da geração contemporânea, que geralmente considera significativas somente as experiências que a tocam em sua corporeidade e afetividade;

d. o caráter comunitário: o catecumenato é um processo que se realiza em uma comunidade concreta, que faz experiência da comunhão dada por Deus e, portanto, está ciente de sua responsabilidade pelo anúncio da fé. A catequese inspirada no catecumenato integra a contribuição de diferentes carismas e ministérios (catequistas, agentes da liturgia e da caridade, responsáveis por grupos eclesiais, juntamente com os ministros ordenados), revelando que o interior que regenera à fé é toda a comunidade;

e. o caráter de conversão permanente e de testemunho: o catecumenato é imaginado, como um todo, como um caminho de conversão e gradual purificação, enriquecido também por ritos que assinalam a aquisição de uma nova forma de existência e pensamento. A catequese, ciente de que a conversão nunca é imediatamente realizada, mas sim dura toda a vida, educa a descobrir-se pecadores perdoados e, valorizando o rico patrimônio da Igreja, prepara também itinerários especiais penitenciais e formativos, que favorecem a conversão do coração e da mente em um novo estilo de vida, que também é perceptível pelo exterior;

f.  o caráter de progressividade da experiência formativa (EG, n. 166; RICA, n. 4-6): o catecumenato é um processo dinâmico estruturado em períodos que se seguem de modo gradual e progressivo. Esse caráter evolutivo responde à biografia mesma da pessoa, que cresce e amadurece com o tempo. A Igreja, acompanhando pacientemente e respeitando os tempos reais de amadurecimento de seus filhos, nessa atenção manifesta a sua maternidade.

65. A catequese em chave querigmática e missionária requer a realização de uma pedagogia de iniciação inspirada no itinerário catecumenal, respondendo com sabedoria pastoral à pluralidade das situações. Em outras palavras, segundo um sentido amadurecido em diversas Igrejas, se trata da catequese de iniciação à vida cristã. Um itinerário pedagógico oferecido na comunidade eclesial e que leva aquele que crê ao encontro pessoal com Jesus Cristo por meio da Palavra de Deus, da ação litúrgica e da caridade, integrando todas as dimensões da pessoa, para que ele cresça na mentalidade da fé e seja testemunha de vida nova no mundo.

2. A catequese no processo da evangelização (n. 66-74) Primeiro anúncio e catequese

66.   Com o primeiro anúncio, a Igreja proclama o Evangelho e desperta a conversão. Na prática pastoral ordinária, esse momento do processo evangelizador é fundamental. Na missão ad gentes, isso ocorre no período chamado pré-catecumenato. No momento atual da nova evangelização, fala-se mais corriqueiramente, como foi dito, de catequese querigmática.

67.   No contexto da missão ad gentes, o primeiro anúncio deve ser entendido principalmente em um sentido cronológico. De fato, “dar a conhecer Jesus Cristo e o seu Evangelho àqueles que não os conhecem, é precisamente, a partir da manhã do Pentecostes, o programa fundamental que a Igreja assumiu como algo recebido do seu fundador” (EN, n. 51). Ela faz o primeiro anúncio “por meio de uma atividade complexa e diversificada, que algumas vezes se designa com o nome de ‘pré-evangelização’, mas que, a bem dizer, já é evangelização, embora no seu estágio inicial e ainda incompleto” (EN, n. 51). A catequese desenvolve e leva à maturidade esse momento inicial. Portanto, o primeiro anúncio e a catequese, embora distintos, são complementares.

68.   Em muitos contextos eclesiais, o primeiro anúncio possui também um segundo significado. “Ao designar-se como ‘primeiro’ este anúncio, não significa que ele se situe no início e que, em seguida, se esquece ou substitui por outros conteúdos que o superam; é o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, de uma forma ou de outra, durante a catequese, em todas as suas etapas e momentos” (EG, n. 164). O primeiro anúncio, missão de cada cristão, tem por fundamento aquele ide (Mc 16,15; Mt 28,19) que Jesus indicou para seus discípulos e implica sair, acorrer, acompanhar, tornando-se assim verdadeiros discípulos missionários. Ele não pode, portanto, ser reduzido a um ensinamento de uma mensagem, mas é, antes de tudo, partilha da vida que vem de Deus e comunicação da alegria de ter encontrando o Senhor. “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte e, dessa forma, o rumo decisivo” (DCE, n. 1).43

 

Catequese de iniciação cristã

69.   A catequese de iniciação cristã se interliga à ação missionária, que chama a fé, à ação pastoral que a alimenta continuamente. A catequese é parte integrante da iniciação cristã e está intimamente unida aos sacramentos da iniciação, especialmente com o Batismo. “O elo que une a catequese com o Batismo é a profissão de fé que é, ao mesmo tempo, o elemento interior a este sacramento e a meta da catequese” (DGC, n. 66). “A missão de batizar, portanto, a missão sacramental, está implícita na missão de evangelizar” (CIgC, n. 1122); assim sendo, a missão sacramental não pode ser separada do processo de evangelização. De fato, o itinerário ritual da iniciação cristã é uma forma realizada da doutrina que não somente se concretiza na Igreja, mas a constitui. A iniciação cristã não se limita a uma enunciação, mas sim põe em prática o Evangelho.

70.   Os sacramentos da iniciação cristã constituem uma unidade porque “põem os alicerces da vida cristã: os fiéis, renascidos pelo Batismo, são fortalecidos pela Confirmação e alimentados pela Eucaristia” (Comp. CIgC, n. 251). É importante reiterar que, de fato, “somos batizados e crismados em ordem à Eucaristia. Esse dado implica o compromisso de favorecer na ação pastoral uma compreensão mais unitária do percurso de iniciação cristã” (SCa, n. 17).44 É oportuno, portanto, avaliar e considerar a ordem teológica dos sacramentos – Batismo, Confirmação, Eucaristia – para “verificar qual é a prática que melhor pode, efetivamente, ajudar os fiéis a colocarem no centro o sacramento da Eucaristia, como realidade para qual tende toda a iniciação” (SCa, n. 18). É desejável que, onde se realizam experimentos, estes não sejam casos isolados, mas o fruto de uma reflexão de toda a Conferência Episcopal que confirma as escolhas operacionais para todo o território de sua competência.

71.   A catequese de iniciação cristã é uma formação de base, essencial, orgânica, sistemática e integral da fé:

a. de base e essencial, enquanto aprofundamento inicial do querigma que explicita os mistérios fundamentais da fé e dos valores evangélicos basilares. “A catequese lança os fundamentos do edifício espiritual do cristão, alimenta as raízes da sua vida de fé, habilitando-o a receber o sucessivo alimento sólido, na vida ordinária da comunidade cristã” (DGC, n. 67);

b. orgânica, enquanto coerente e bem ordenada; sistemática, isto é, não improvisada ou ocasional. A exposição orgânica e sistemática do mistério cristão distingue a catequese das outras formas de anúncio da Palavra de Deus;

c. integral, porque se trata do aprendizado aberto a todos os componentes da vida cristã. A catequese gradualmente favorece a interiorização e a integração dessas componentes, provocando uma transformação do homem velho e a formação de uma mentalidade cristã.

72.   Essas características da catequese de iniciação são de modo exemplar expressas na síntese da fé já elaborada pela Escritura (na tríade fé, esperança, caridade) e depois na Tradição (fé acreditada, celebrada, vivida e orada). Essas sínteses são uma forma de compreender harmoniosamente a vida e a história, pois não enunciam posições teológicas interessantes, mas sempre parciais; antes, proclamam a própria fé da Igreja.

 

Catequese e formação permanente à vida cristã

73.   A catequese se coloca a serviço de uma resposta de fé do fiel, tornando-o capaz de viver a vida cristã em um estado de conversão. Em essência, trata-se de favorecer a interiorização da mensagem cristã, por meio desse dinamismo da catequese que na progressão sabe integrar a escuta, o discernimento e a purificação. Tal ação na catequese não se limita ao fiel individual, mas se destina a toda a comunidade cristã de modo a sustentar o empenho missionário da evangelização. A catequese incentiva também a inserção dos indivíduos e da comunidade no contexto social e cultural, auxiliando na leitura cristã da história e favorecendo o compromisso social dos cristãos.

74.   A catequese, estando a serviço da educação permanente à fé, está em relação às diversas dimensões da vida cristã.

a. Catequese e Sagrada Escritura: a Sagrada Escritura é essencial para progredir na vida de fé; sua centralidade na catequese permite transmitir, de forma vital, a história da salvação e, assim, “encorajar o conhecimento das figuras, acontecimentos e expressões fundamentais do Texto Sagrado” (VD, n. 74).45

b. Catequese, liturgia e sacramentos: a catequese está orientada para a celebração litúrgica. São necessárias tanto uma catequese que prepara para os sacramentos quanto uma catequese mistagógica que favoreça uma compreensão e uma experiência mais profunda da liturgia.

c. Catequese, caridade e testemunho: enquanto a catequese, como ressonância do Evangelho, molda a caridade, a ação caritativa é parte integrante do anúncio na catequese. A caridade não é somente um sinal da aceitação do Evangelho, mas também uma maneira privilegiada de ter acesso a ele: “todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4,7).

3. Finalidade da catequese (n. 75-78)

75.   No centro de cada processo de catequese está o encontro vivo com Cristo. “A finalidade definitiva da catequese é a de fazer que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Santíssima Trindade” (CT, n. 5).46 A comunhão com Cristo é o centro da vida cristã e, consequentemente, o centro da ação catequética. A catequese se orienta a formar pessoas que conhecem cada vez mais Jesus Cristo e seu Evangelho de salvação libertadora; pessoas que vivem um profundo encontro com Ele e que escolhem seu mesmo modo de vida e sentimentos (Fl 2,5), comprometendo-se a realizar, nas situações históricas em que vivem, a missão de Cristo, que é o anúncio do Reino de Deus.

76.   O encontro com Cristo envolve a pessoa em sua totalidade: coração, mente, sentidos. Não diz respeito somente à mente, mas também ao corpo e sobretudo ao coração. Nesse sentido, a catequese, que auxilia na interiorização da fé e, com isso, dá uma contribuição insubstituível para o encontro com Cristo, não está sozinha no caminho rumo a esse objetivo. A essa finalidade concorrem as demais dimensões da vida da fé: a experiência litúrgica-sacramental, as relações afetivas, a vida comunitária e o serviço aos irmãos e irmãs, de fato, elementos essenciais para o nascimento do homem novo (Ef 4,24) e para a transformação espiritual pessoal (Rm 12,2).

77.   A catequese amadurece a conversão inicial e ajuda os cristãos a dar um significado pleno à sua própria existência, educando-os a uma mentalidade de fé conforme ao Evangelho,47 até que eles gradualmente passam a sentir, pensar e agir como Cristo. Nesse caminho, no qual o próprio sujeito intervém decisivamente com a sua personalidade, a capacidade de acolher o Evangelho é proporcional à situação existencial e à fase de crescimento da pessoa.48 Reitera-se, no entanto, que “‘a catequese dos adultos, uma vez que é dirigida a pessoas capazes de uma adesão e de um empenho realmente responsáveis, deve ser considerada como a principal forma de catequese, para qual todas as demais, não por isso menos necessárias, estão orientadas’. Isso implica que a catequese das demais idades deve tê-la como ponto de referência e deve articular-se com ela” (DCG, n. 59).49

78.   A comunhão com Cristo implica a confissão de fé no único Deus: Pai, Filho, Espírito Santo. “A profissão de fé, intrínseca ao Batismo, é eminentemente trinitária. A Igreja batiza ‘em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo’ (Mt 28,19), Deus uno e trino, ao qual o cristão confia a sua vida (...) É importante que a catequese saiba unir bem a confissão de fé cristológica, ‘Jesus é o Senhor’, com a confissão trinitária, ‘Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo’, uma vez que são tão somente duas modalidades para se exprimir a mesma fé cristã. Aquele que, pelo primeiro anúncio, se converte a Jesus Cristo e o reconhece como Senhor, inicia um processo, ajudado pela catequese, que desemboca necessariamente na confissão explícita da Trindade” (DGC, n. 82). Tal confissão é certamente um ato pessoal do indivíduo, mas só atinge sua plenitude se é feita na Igreja.

4. Atividades da catequese (n. 79-89)

79. Para alcançar seu propósito, a catequese realiza algumas atividades, interconectadas, que se inspiram no modo como Jesus formou os seus discípulos: fazia conhecer os mistérios do Reino, ensinava a rezar, propunha as atitudes evangélicas, iniciava-os à vida de comunhão com Ele e entre eles e à missão. Essa pedagogia de Jesus então moldou a vida da comunidade cristã: “Eles eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). A fé, de fato, exige ser conhecida, celebrada, vivida e rezada. Para formar a uma vida cristã integral, a catequese persegue, portanto, as seguintes atividades: conduz à consciência da fé; inicia à celebração do mistério; forma à vida em Cristo; ensina a rezar e introduz à vida comunitária.

Conduzir à consciência da fé

80. A catequese tem a missão de fomentar a consciência e o aprofundamento da mensagem cristã. Dessa forma, ajuda a conhecer as verdades da fé cristã, introduz à consciência da Sagrada Escritura e da Tradição viva da Igreja, favorece o conhecimento do Credo (Símbolo da Fé) e a criação de uma visão doutrinal coerente, à qual se pode fazer referência na vida. É importante não subestimar essa dimensão cognitiva da fé, e ter o cuidado de integrá-la ao processo educativo de amadurecimento cristão integral. Com efeito, uma catequese que se opõe ao conteúdo e à experiência de fé se revelaria falha. Sem a experiência de fé, estaria privada de um verdadeiro encontro com Deus e com os irmãos; sem aprofundamento, estaria impossibilitado o amadurecimento da fé, capaz de introduzir ao sentido da Igreja e de viver o encontro e a relação com os outros.

Iniciar à celebração do mistério

81.   Além de favorecer um conhecimento vivo do mistério de Cristo, a catequese também tem a missão de ajudar na compreensão e na experiência das celebrações litúrgicas. Por meio dessa atividade, a catequese ajuda a compreender a importância da liturgia na vida da Igreja, inicia à consciência dos sacramentos e à vida sacramental, especialmente ao sacramento da Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. Os Sacramentos, celebrados na liturgia, são um meio especial que comunicam plenamente aquele que é anunciado pela Igreja.

82.   A catequese também educa a atitudes que as celebrações da Igreja exigem: alegria pelo caráter festivo das celebrações, o sentido comunitário, a escuta atenta da Palavra de Deus, a oração confiante, o louvor e a ação de graças e a sensibilidade aos símbolos e sinais. Por meio da participação consciente e ativa nas celebrações litúrgicas, a catequese educa à compreensão do ano litúrgico, verdadeiro mestre da fé, e do significado do Domingo, dia do Senhor e da comunidade cristã. A catequese também ajuda a valorizar as expressões de fé da piedade popular.

Formar à vida em Cristo

83.   A catequese tem a missão de fazer ressoar, no coração de cada cristão, o chamado a viver uma vida nova, conforme à dignidade dos filhos de Deus recebida no Batismo e à vida do Ressuscitado que se comunica com os Sacramentos. Essa missão consiste em mostrar que a altíssima vocação à santidade (LG, n. 40)50 corresponde à resposta de um estilo de vida filial, capaz de reconduzir todas as situações para o caminho da verdade e da felicidade que é Cristo. Nesse sentido, a catequese educa ao seguimento do Senhor, segundo as disposições descritas nas Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), que manifestam sua própria vida. “Jesus explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; assim o fez quando nos deixou as Bem-aventuranças (Mt 5,3-12; Lc 6,20-23). Essas são como que o bilhete de identidade do cristão” (GeE, n. 63).51

84.   Da mesma forma, a atividade catequística de educar à vida digna do Evangelho envolve a formação cristã da consciência moral, a fim de que em todas as circunstâncias o fiel possa colocar-se à escuta da vontade do Pai para discernir, sob orientação do Espírito e em consonância com a lei de Cristo (Gl 6,2), o mal a ser evitado e o bem a ser feito, realizando isso mediante uma diligente caridade. Por essa razão, é importante ensinar a colher do mandamento da caridade desenvolvido no Decálogo (Ex 20,1-17; Dt 5,6-21) e das virtudes, humanas e cristãs, as indicações para agir como cristãos nos diferentes âmbitos da vida. Sem esquecer que o Senhor veio dar vida em abundância (Jo 10,10), a catequese sabe indicar “o bem desejável, a proposta de vida, de maturidade, de realização, de fecundidade” para fazer dos fiéis “mensageiros alegres de propostas altas, guardiões do bem e da beleza que resplandecem em uma vida fiel ao Evangelho” (EG, n. 168).

85.   Ademais, tem-se em mente que a resposta à vocação cristã comum se realiza de modo encarnado, uma vez que cada filho de Deus, segundo a medida de sua liberdade, escutando a Deus e reconhecendo os carisma por Ele confiados, tem a responsabilidade de descobrir seu próprio papel no plano de salvação. A educação moral na catequese, portanto, sempre se pratica em uma perspectiva vocacional, olhando primeiramente para a vida como primeira e fundamental vocação. Cada forma de catequese se esforçará para ilustrar a dignidade da vocação cristã, para acompanhar no discernimento da vocação específica e para ajudar a consolidar o próprio estado de vida. Cabe à ação catequística mostrar que a fé, traduzida em uma vida comprometida a amar como Cristo, é o caminho para favorecer o advento do Reino de Deus no mundo e para esperar pela promessa da bem-aventurança eterna. Ensinar a rezar

86.   A oração é, primeiramente, um presente de Deus; de fato, em cada batizado “é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8,26). A catequese tem a missão de educar à oração e na oração, desenvolvendo a dimensão contemplativa da experiência cristã. É preciso educar a orar com Jesus Cristo e como Ele: “Aprender a rezar com Jesus é rezar com os mesmos sentimentos com os quais Ele se dirigia ao Pai: a adoração, o louvor, o agradecimento, a confiança filial, a súplica e a contemplação da sua glória. Esses sentimentos se refletem no Pai-Nosso, a oração que Jesus ensinou aos discípulos e que é modelo de toda oração cristã. (...) Quando a catequese é permeada por um clima de oração, o aprendizado de toda a vida cristã alcança a sua profundidade” (DGC, n. 85).

87.   Essa missão implica educar tanto à oração pessoal quanto às orações litúrgica e comunitária, iniciando às formas permanentes de oração: bênção e adoração, prece, intercessão, ação de graça e louvor (CIgC, n. 2626-2649). Para alcançar esses objetivos, existem algumas formas bem conhecidas: a leitura orante da Sagrada Escritura, especialmente por meio da Liturgia das Horas e da lectio divina; a oração do coração, chamada oração a Jesus,52 a veneração da Bem-aventurada Virgem Maria graças às práticas de piedade como o santo Rosário, as súplicas, as procissões, etc.

 

Introduzir à vida comunitária

88.   A fé se professa, se celebra, se expressa e se vive sobretudo na comunidade: “A dimensão comunitária não é apenas uma ‘moldura’, um ‘contorno’, mas constitui uma parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização”. 53 Ela se exprime bem no princípio clássico: “Idem velle atque idem nolle – querer a mesma coisa e rejeitar a mesma coisa é, segundo os antigos, o autêntico conteúdo do amor: um tornar-se semelhante ao outro, que leva à união do querer e do pensar” (DCE, n. 17). Isso é possível cultivando uma espiritualidade de comunhão. Essa espiritualidade percebe a luz da Trindade no rosto do irmão, sentindo-a na unidade profunda do Corpo místico como parte de si; partilhando suas alegrias e seus sofrimentos para colher seus desejos; cuidando de suas necessidades; oferecendo-lhe uma verdadeira e profunda amizade. Olhar no outro primeiramente o positivo para valorizá-lo como dom de Deus ajuda a rejeitar as tentações egoístas que geram competição, carreirismo, desconfiança e inveja.

89.   A catequese, com relação à educação na vida comunitária, tem, portanto, a missão de desenvolver um senso de pertencimento à Igreja; educar ao sentido de comunhão eclesial, promovendo o acolhimento do Magistério, a comunhão com os pastores; e o diálogo fraterno; formar ao sentido de corresponsabilidade eclesial, contribuindo como sujeitos ativos para a edificação da comunidade e como discípulos missionários para o seu crescimento.

 


Comentários

  1. Que bom poder participar dessa formação, os conteúdos são riquíssimos e tbm as a metodologia que o padre Edivaldo usou nos esclareceu muitas dúvidas, parabéns a equipe.Que Deus os abençoe

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    1. Um aprendizado excelente, levarei este conteúdo sempre , que só veio a inriquecer o que já sei, na qualidade de Ministro da Santa Eucaristia ., Colocarei em prática este excelente aprendizado no meu dia a dia! Parabéns a toda a equipe deste curso, e um grande abraço a todos.

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  2. Foi muito bom esse texto ele foi fundamental no meu aprendizado como cristão

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